Treinar o cérebro e o ombro: uma nova abordagem na reabilitação da instabilidade do ombro

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Treinar o cérebro e o ombro: uma nova abordagem na reabilitação da instabilidade do ombro

Publicado em 2025 no British Journal of Sports Medicine, o editorial “Turning our attention towards dual tasking in shoulder instability rehabilitation”, escrito por David Lalor, propõe uma mudança de olhar importante na recuperação de pacientes com instabilidade do ombro — condição comum em atletas e jovens ativos, marcada por episódios de luxação e sensação de ombro “solto”.

O desafio da instabilidade do ombro

A luxação anterior do ombro é uma das lesões mais recorrentes no esporte e apresenta índices de reincidência de até 39% no primeiro ano após o primeiro episódio, mesmo com tratamento adequado. Tradicionalmente, a fisioterapia foca em força, controle motor e amplitude de movimento, seguindo uma lógica biomecânica: quanto mais forte o ombro, menor o risco de nova lesão.

Porém, como destaca o artigo, essa visão não é suficiente. Mesmo após o restabelecimento da força muscular, muitos pacientes continuam com risco aumentado de novas luxações — o que pode estar relacionado a mudanças cerebrais e de controle motor que permanecem após a lesão.

O papel do cérebro na estabilidade do ombro

Pesquisas recentes mostram que, após um episódio de instabilidade, ocorrem alterações nas áreas cerebrais ligadas ao movimento, percepção e controle motor. Isso faz com que o cérebro precise de mais esforço para coordenar os movimentos do ombro, e muitas vezes o indivíduo passa a depender mais da visão do que da sensação corporal (propriocepção) para se mover com segurança.

Essas alterações explicam por que alguns pacientes apresentam medo, insegurança e atraso nos reflexos de proteção — fatores que aumentam o risco de nova lesão mesmo após a alta clínica.

O que é o “dual tasking” e como ele ajuda

O conceito central proposto por Lalor é o “dual tasking”, ou treino de dupla tarefa — a capacidade de realizar um movimento motor enquanto o cérebro é desafiado por uma tarefa cognitiva simultânea.

Na prática, isso significa executar um exercício de ombro enquanto se faz um cálculo simples, reage a um estímulo visual ou toma uma decisão rápida. Esse tipo de treino estimula o cérebro a processar múltiplas informações ao mesmo tempo, simulando as situações reais do esporte — onde é preciso se mover, pensar e reagir em frações de segundo.

O autor destaca o modelo chamado “Continuum de Controle para Caos Visual-Cognitivo”, que sugere aumentar gradualmente a complexidade dos desafios cognitivos conforme o paciente evolui:

  • Fase inicial: tarefas simples, como contar de trás para frente enquanto movimenta o braço.
  • Fase intermediária: exercícios que combinam força e tomada de decisão (por exemplo, reagir a cores ou sons diferentes com movimentos distintos).
  • Fase esportiva: desafios de atenção dividida e reações imprevisíveis, como lançar e receber uma bola com um olho fechado ou enquanto há perturbações externas.

Aplicações práticas e benefícios

De acordo com o artigo, incluir o treino cognitivo na reabilitação do ombro pode ajudar a:

  • Reverter alterações cerebrais que persistem após a lesão.
  • Melhorar o controle motor e a velocidade de reação.
  • Reduzir o risco de nova instabilidade ao preparar o paciente para situações “caóticas” e reais do esporte.

Ferramentas simples, como BlazePods (luzes reativas) ou aplicativos de treino visual, podem tornar essa abordagem acessível e envolvente, tanto em clínicas quanto em academias de reabilitação.

Conclusão

O editorial de Lalor (2025) reforça que reabilitar o ombro é também reabilitar o cérebro.
Mais do que recuperar força e amplitude de movimento, é preciso reconstruir a integração entre mente e corpo, treinando o paciente para reagir de forma rápida, precisa e segura — como exige a vida real e o esporte.

Na CineticsPhysio, essa visão integrada já faz parte da prática clínica: unir o treino neuromuscular, cognitivo e funcional é o caminho para uma reabilitação completa e duradoura, que devolve confiança e desempenho ao paciente.

 

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